sobre o acervo

ABIBIMAN. Um Jornal da ARCA

As décadas de 1980 e 1990 assinalaram uma importante virada na condução da discussão pública da questão racial no Brasil. Para além de novas perspectivas de luta e de denúncias contra o racismo, ampliaram-se as temáticas desse debate público. Tópicos como as movimentações em torno dos 100 anos da lei áurea, as lutas pela abertura política no país e o processo para elaboração de uma nova constituição, a cidadã, promulgada em 1988, as mobilizações em torno dos 300 anos do assassinato de Zumbi dos Palmares e as argumentações iniciais sobre a necessidade da adoção de políticas afirmativas mobilizaram todo o país.

Como é comum acontecer, o foco sobre esse novo momento vivido pelo movimento organizado negro esteve voltado para as metrópoles. Contudo, o debate racial no Brasil naquele período não esteve limitado às grandes cidades ou às capitais. Seja pelo nível de propagação que as temáticas atingiram, ocupando os meios de comunicação de massa e, assim, chegando a pessoas de diferentes lugares do país, seja pelo sentido que tais pautas ocupavam, e ocupam, na vida cotidiana das pessoas (como falamos da Constituinte de 1988) ou, como queremos destacar aqui, pelas conexões entre sujeitos individuais e coletivos das distintas regiões de cada estado federativo.

No caso do estado de Pernambuco, surpreendemos, na arena da luta negra, ações do Movimento Negro Unificado (MNU) expandindo suas redes de contato e abrindo diálogos com cidades do interior do estado, com destaque para o sertão, como bem registrou o jornal Negritude, órgão de imprensa do MNU-PE.

Na sexta edição do jornal Negritude[1], o sertão se faz presente em pelo menos três textos. A primeira página traz uma matéria que relata o início da articulação entre o MNU e a Comunidade Quilombola de Conceição das Crioulas, fundada em 1802 na cidade de Salgueiro. Esse feito foi saudado em editorial e também no texto intitulado “MNU 15 anos: análise e perspectivas”, que anunciava para outubro daquele ano (1993) a realização do I Encontro de Negros do Sertão de Pernambuco, fruto da interação do MNU com cidades do interior.

Na edição de número 8 do Jornal Negritude[2], publicado em novembro/dezembro de 1994, em matéria intitulada “20 de novembro. Legalização das terras dos remanescentes dos quilombos”, é abordada a articulação do MNU com comunidades quilombolas das cidades de Salgueiro (Conceição das Crioulas) e Garanhuns (Castainho). A seção “Perfil Azeviche” noticia a realização, em Arcoverde, da palestra “Quilombos. Resistência negra”, em evento que contou com a participação de integrante do MNU-PE e com a apresentação musical de Luís Calixto.

Por ocasião da XIII Noite do Cafuné[3], o MNU-PE reuniu artistas e grupos culturais tais como: Maracatu Elefante, Grupo de Rap Faces do Subúrbio, Grupo de Coco do Sr. Luís Calixto/Arcoverde, Grupo de Samba-reggae e o Grupo de Pagode Elite. Já o I Encontro de Negros do Sertão de Pernambuco aconteceu na cidade de Salgueiro, no período de 29 a 31 de julho de 1994.

Um olhar para as duas primeiras dezenas de edições do Abibiman possibilita perceber que as trocas e parceria com o Jornal Djumbay estiveram presentes desde os primeiros números da publicação arcoverdense. A oitava edição do jornal, veiculada em novembro de 1995, registra a cobertura feita pelo Djumbay de um encontro de Reggae realizado no Recife; a edição de fevereiro de 1996 relata que “No último dia 21 de janeiro de 96, a Associação de Resgate da Cultura Afro o COPAMA e o jornal DJUMBAY REALIZARAM O PRIMEIRO SEMINÁRIO DA CULTURA negra em Arcoverde.” Na 16ª edição, de março de 1996, o Editorial destaca a participação da Organização Djumbay no processo pela reabertura do Museu da Abolição, no Recife, parceria reforçada quando da vigésima edição do Abibiman, que divulgava a Central de Notícias Afro-Brasileira (CENAB), projeto do Djumbay.

Destacamos as primeiras edições exatamente para situar o Abibiman como um jornal que já nasce articulado com organizações negras de outras cidades pernambucanas, brasileiras e estrangeiras, como a coleção certifica.  Esses são apenas alguns registros da mobilização no sertão em prol da luta contra o racismo e suas articulações com organizações negras da capital pernambucana, mas que põem por terra ideias difundidas por uma historiografia da escravidão aficionada aos portos, que atribui a exclusividade da presença negra àquelas regiões mais próximas ao litoral. Em artigo sobre as características do escravismo em Pernambuco no século XIX, Versiani e Vergolino (2003) concluem que:

Segundo levantamentos estatísticos da primeira metade do século XIX, confirmados pelos dados do Censo de 1872, entre 30% e 40% dos escravos da província de Pernambuco, no século XIX, não pertenciam a proprietários da Zona da Mata, onde se localizavam as grandes propriedades açucareiras, mas estavam no Agreste, região do algodão, gado e lavoura alimentar, e no Sertão, onde predominava a criação de gado.[4]

            Pesquisas no sítio eletrônico do BDE (Base de Dados do Estado), órgão do governo do estado de Pernambuco, mostrando registros da população do estado de Pernambuco e da cidade de Arcoverde, tomando por referência o censo de 2010, sinalizam que o percentual de negros (compreendidos como a soma da população autoidentificada como preta e parda) tanto do estado quanto da cidade de Arcoverde passa de 58%. Igual porcentual registra a PNAD de 1995 para o estado de Pernambuco.[5]

Desse contingente populacional saem as pessoas responsáveis pelas formulações das tantas expressões culturais negras sertanejas, a exemplo da ARCA e do Abibiman, para citar duas que nos interessam em particular.

A ARCA sintetiza ações de luta contra o racismo que já vinham acontecendo na cidade de Arcoverde, sempre em articulações com outras redes. Particularmente, me recordo de participar, juntamente com os companheiros Junior Afro e Romero, em Arcoverde, de reunião preparatória para o I Encontro de Negros do Sertão de Pernambuco. Fomos hospedados pela companheira Valdira Ramos, que nos apresentou a outros integrantes da luta negra na cidade. O evento ocorreu em 1994 e contou com a participação de Valdira e Luís Calixto, dentre outros. Conforme Silva (2019:17), “a ARHCA possuiu como base inicial de sua atuação o trabalho que Luizão já realizava dando aulas com enfoque em temáticas étnico-raciais, tendo o propósito de dar continuidade e expandi-lo”.[6]

A imbricação ARCA/Abibiman é tão forte que nasceram praticamente juntos. Ou seja, a ARCA não precisou de muito tempo para compreender a necessidade da existência de um órgão de imprensa, e de menos tempo ainda para decidir por sua publicação. Assim, é da capa da primeira edição do Abibiman que extraímos a apresentação da ARCA:

Após muitos anos sem uma entidade que representasse o Movimento Negro em Arcoverde, foi fundada em 12 de outubro de 1994, a Associação de Resgate da Cultura Afro de Arcoverde, a A.R.C.A tendo como finalidade o combate ao preconceito racial e o resgate de valores históricos e culturais do negro de Arcoverde e Região, a ARCA conclama o negro pernambucano a assumir sua negritude e a juntar-se a nós nessa luta.[7]

Seis meses depois do nascimento da ARCA, surgia o jornal Abibiman, em abril de 1995. Conforme conclamava o editorial inaugural, o jornal tinha o propósito de “se tomar mais um instrumento na luta pela igualdade dos homens, sem distinção de sexo, raça ou cor. A luta contra as formas de discriminação e a conscientização do negro serão nossas maiores metas.” Um instrumento a mais na cidade para fortalecer a atuação da ARCA.

A escolha do nome do jornal, um vocábulo extraído da língua swahili, pode expressar o propósito de reforçar vínculos com o continente africano, mas também passar uma ideia de princípios de coletividade, que extrapola fronteiras geográficas. Como informa o jornal,

Abibiman: palavra Swahili, significa povo negro; sua significação abrange a totalidade dos africanos (negros), independentemente de qualquer fronteira de Nação ou de particularidades de tribo ou etnia.

            No âmbito da imprensa negra, quer contemporânea, como os periódicos que compõem o site Negritos, quer do passado, como os veículos que se concentraram, sobretudo, no eixo Sudeste-Sul, o Abibiman é, sem dúvida, um dos mais longevos em termos de existência, tendo circulado ao longo de 13 anos, com o quantitativo expressivo de 159 edições[8]. Vale, igualmente, destacar a regularidade da periodicidade como elemento comum a todos os anos de sua vigência. Mês após mês, o jornal foi às ruas! De abril de 1995 a julho de 2008, não houve uma só vez em que “o mundo”, em especial as/os arcoverdenses, não recebessem uma edição do Abibiman.

Tão longa trajetória implicou – e nem poderia se esperar que fosse diferente – fases diversas do jornal que, contudo, teve em todas elas a presença de Luiz Eloy de Andrade, o Luizão, como incansável diretor responsável.

O conjunto de informações abaixo propõe mostrar, de forma condensada, alguns dados sobre o projeto gráfico, composição editorial e a política de distribuição do jornal do sertão pernambucano.

 

EXPEDIENTE:

  • Nº 1 ao nº 40

Diretor responsável: Luiz Eloy de Andrade (Luizão)
Redação: Paulo E. R. Carvalho

  • Nº 41 ao nº 49

Diretor responsável: Luiz Eloy de Andrade
Redação: Paulo E. R. Carvalho
Desenhos: Arnaldo Tenório

  • Nº 50 ao nº 53

Diretor responsável: Luiz Eloy de Andrade
Conselho Editorial: Luiz Eloy; Francisco Galindo; Romildo  Primo
Desenhos: Arnaldo Tenório

  • Nº. 53 ao nº 103

Diretor responsável: Luiz Eloy de Andrade
Conselho Editorial: Luiz Eloy; Francisco Galindo; Romildo  Primo

  • Nº. 104 ao nº 159

Diretor responsável: Luiz Eloy de Andrade
Conselho Editorial: Luiz Eloy; Romildo  Primo
Colaborador: Prof. Dr. Alder Júlio Ferreira Calado

 

NÚMERO DE PÁGINAS
Quatro páginas: nº 1 ao nº 45; nº 90  ao nº 159
Seis páginas: nº 46; nº 51 ao nº 89
Oito páginas:  nº 47   ao nº 50

 

FORMATO
Largura/Altura
- 17 cm x 21 cm
- 18 cm x 23 cm
- 21 cm x 30 cm
- 30 cm x 44 cm

 

DISTRIBUIÇÃO
Sem identificação:  nº 1 ao nº 3
R$ 0,25: nº  4 ao nº 49
R$ 0,50: nº  50;  nº  73 ao nº 89
R$ 0,30: nº 51  ao nº 72
R$ 1,00: nº 90  ao nº 159

 

O objetivo, ao trazer os dados e as reflexões iniciais acima, é evidenciar ao leitor/leitora as inúmeras possibilidades de análises que o jornal oferece, tarefa que estamos apenas começando. Assim, dada a importância e existência do Abibiman, consideramos ser de interesse público a difusão do jornal, e nos alegramos com a disponibilização no Negritos de suas edições digitalizadas.

 

Recife, 1º de julho de 2023.

 

Martha Rosa Figueira Queiroz
Coordenadora do Projeto Negritos
Pesquisadora do Projeto Abibiman, a voz negra no sertão pernambucano
Profa. Adjunta do Centro de Artes, Humanidades e Letras/UFRB
Coordenadora ÀROYÉ. Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão Educação para as Relações Étnico-raciais, Educação Patrimonial e Ensino de História


[1] https://negritos.com.br/2018/03/13/negritude-no-6/
[2] https://negritos.com.br/2018/03/13/negritude-no-7/
[3] Festa realizada anualmente pelo MNU-PE e ocorrida no Mercado Eufrásio Barbosa no dia 03 de dezembro de 1994.
[4] VERSIANI, Flávio Rabelo; VERGOLINO, José Raimundo.  Posse de escravos e estruturas da riqueza no Agreste e Sertão de Pernambuco: 1777-1887.  Est. Econ., São Paulo, V.33, N.2, P.353-393, Abril-junho 2003  Disponível em https://www.scielo.br/j/ee/a/CNhhm5fBWDsBSfwPSrz3wsk/ . acesso 08.06.2023
[5] http://www.bde.pe.gov.brhttps://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/59/pnad_1995
[6]  SILVA, Joan Kleber Amorim da. Saberes contra-hegemônicos e práticas sociais: atuação do Movimento Negro em Arcoverde/PE para efetivação de uma educação antirracista.  Bacharelado em Direito. Universidade de Pernambuco. Arcoverde, 2019
[7] Jornal Abibiman, número 01, abril de 1995
[8] Destaque para os jornais O Exemplo (Porto Alegre 1892-1930); O Alvorada (Pelotas, 1907-1965). Outros que ultrapassaram uma década, apesar dos intervalos: Irohim (1996-2010); Jornal do MNU (1981-1996); Negritude (1986-2002)



 

Imprensa negra no Recife e em Salvador

As décadas de 1980 e 1990 foram bastante férteis para a imprensa negra brasileira. A rearticulação das organizações negras durante o incipiente processo de democratizaçãodo país impulsionou uma retomada pujante dos meios de comunicação negros. Jornais e revistas começaram a circular ecoando nos quatros cantos do Brasil e do mundo a existência do racismo, as resistências negras e as riquezas das civilizações africanas e afro-diaspóricas. Recife e Salvador integraram esse cenário e editaram seus jornais.

Além de ter acesso a jornais de fora do Recife, quando da participação em eventos do Movimento Negro (MN) e recepção de periódicos confiados por amigos e militantes, pude acompanhar de perto, na condição de leitora, as primeiras iniciativas da imprensa negra contemporânea no Recife, refiro-meàs colunas de Jorge Morais e Edvaldo Ramos no jornal Diario da Noite e ao jornal Angola, editado pela dupla.

Foi nessa conjuntura que, juntamente com as companheiras Alzenide Simões (Leu) e Márcia Diniz, propus para o Movimento Negro Unificado/Pernambuco (MNU-PE), a produção de um jornal, o Negritude. Esse trio foi reforçado pela participação das companheiras Olívia Pessoa, Mônica Oliveira e Vilma de Deus. Com pequenas alterações, essa equipe foi responsável pela construção do Negração, jornal do Afoxé Alafin Oyó. Também colaboramos com o Omnira, jornal do Grupo de Mulheres do MNU-PE, que teve a comissão de imprensa formada por Alzenide Simões (Leu), Vilma de Deus e Cristina Vital. Além dessas mulheres na idealização e edição dos jornais, muitas outras colaboravam com produção de textos, foi o caso de Inaldete Pinheiro de Andrade, Maria Rosário Trindade, Maria das Neves Maranhão, Adelaide Lima e tantas outras. Essa composição sinaliza a atuação das mulheres no movimento negro pernambucano, inclusive no campo da produção e circulação de ideias. As mulheres eram predominantes, não exclusivas! Companheiros com José Alves (Zeca), Marcelo Pedrosa, Cirilo Mota, Lindivaldo Júnior, Josafá Mota e muitos outros deram suas contribuições para os jornais. Quanto ao jornal Djumbay, o conselho editorial teve maior equilíbrio entre os gêneros. Considerando as edições analisadas, quatorze pessoas, em momentos distintos, compuseram o conselho editorial do Djumbay: sete homens (Gilson Pereira, Lepê Correia, Daniel Silva, Edmundo Ribeiro, Nivaldo Sant’Anna, Tony Azevedo, Edson Silva) e sete mulheres (Verônica Gomes, Rosilene Rodrigues, Glaucia Maria, Cláudia Regina, Ana Maria Gomes, Irismar Silva, Iaracir Silva).

O Jornal do MNU, até o número 11, era creditado a uma comissão de imprensa que não informava os nomes dos componentes. A partir do número 16, as seções do MNU nos estados de São Paulo (São Paulo e Campinas), Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Goiás e Bahia (Juazeiro) assinam como comissão nacional de imprensa e ou conselho editorial.  A partir do número 16, cada seção indica um nome, que atuam em momentos distintos. São eles: Edson Cardoso, Iris Silva, Ivana Leal, João Marcos Braz, Jônatas Conceição da Silva, Josafá Mota, Reinaldo Pereira, Geraldo Júnior, Julio C. Oliveira, Miriam Caetano, Jurema Batista, Luiz Alberto, Haroldo Antonio, Milton Barbosa, Júlio Camisolão, Maria de Lourdes. Ao nomear, percebemos que diferente de Pernambuco, no Jornal do MNU a presença masculina foi superior à feminina nas comissões responsáveis pelo jornal. Cabe aqui uma homenagem ao colega Jônatas Conceição da Silva, que desde o primeiro número esteve à frente do Jornal do MNU, sendo o grande responsável pela guarda desse periódico.

Conhecer esse universo e sua importância foi determinante para projetar sua preservação. Assim surgiu o projeto Negritos. O recorte espacial restrito a Recife e Salvador, inicialmente, decorre da convivência com tais periódicos (atuei no MNU-PE por muito tempo) e da ciência dos poucos investimentos  na pesquisa da imprensa negra nordestina. Nesse sentido, os projetos de digitalização da imprensa negra paulista foram estímulos fundamentais.

O recorte temporal, de 1981 a 2002, correspondente ao período de circulação dos jornais acessados. Tendo em vista o material já reunido no acervo, parece-me que novas aquisições resultarão em poucas alterações no marco temporal.

Pessoas vinculadas aos periódicos, seja como editoras ou leitoras, são as grandes depositárias desses jornais, que em alguns casos estavam em processo avançado de deterioração. Assim, posso dizer que iniciei a pesquisa tendo sob minha guarda cerca de 85% do conjunto pernambucano que hoje forma o Negritos.

Para completar a coletânea atual do Jornal do MNU, foi indispensável a colaboração de pessoas como Ana Célia da Silva e Maria Luiza Passos, e de Inaldete Pinheiro, Mônica Oliveira e o Arquivo Público de Olinda para rematar o conjunto dos jornais pernambucanos, inclusive versões digitais cedidas por Yasmin Alves e André Bezerra.

Além da identificação e coleta, a pesquisa compreendeu o restauro, o fichamento, digitalização e disponibilização no atual site. Nesse caminhar, contei com a colaboração de excelentes profissionais.

Para ampliar o acesso ao universo desses jornais, coletei depoimentos de guardiões da memória no sentido de registrar suas lembranças em audiovisual. No total foram seis depoimentos concedidos por: Ana Célia da Silva, Inaldete Pinheiro de Andrade, Alzenide Simões, Mônica Oliveira, Gilson Pereira, e por mim, Martha Rosa. Também conversei com Yasmin Alves, uma jovem que almeja colocar o Negração, jornal do Afoxé Alafin Oyó, novamente em circulação.

Foram momentos de muita emoção. Cada trecho dos depoimentos nos levava a cenas de intensa mobilização do Movimento Negro nas cidades de Recife e Salvador no período 1981 a 2002 e a reflexões sobre os processos criativos que resultaram em cada edição do jornal. Trazia de volta o cenário do Recife e de Salvador nas décadas de 1980 e 1990, as questões vivenciadas pelas organizações para fazer circular suas ideias de maneira impressa. As barreiras eram muitas, mas nada comparado com a crença na força daquelas palavras. Aquelas ideias precisavam ganhar o mundo! Assim foi formado o conjunto de quarenta e sete edições de jornais pernambucanos e vinte e duas edições de um jornal soteropolitano, conforme quadro abaixo:

PERNAMBUCO

PERIÓDICO PERÍODO Nº DE EDIÇÕES DIGITALIZADAS
ANGOLA 1981 a 1989 06
NEGRITUDE 1986 a 2002 13
NEGRAÇAO 1988 a 1991 04
DJUMBAY 1991 a 1997 19
OMNIRA 1993 a 1994 05

 

BAHIA

PERIÓDICO PERÍODO Nº DE EDIÇÕES DIGITALIZADAS
NÊGO (Boletim da seção baiana do MNU) 1981 a 1986 11
NÊGO (Jornal Nacional do MNU) 1987 a 1988 04
JORNAL DO MNU 1989 a 1996 07

 

No conjunto, o Jornal do MNU encontrava-se em pior situação de conservação. Os pernambucanos estavam em boas condições, salvo alguns poucos que precisaram de restauro. Os jornais foram restaurados, sendo os que não faziam parte da minha coleção, devolvidos para as tutoras.

Diante dessa primeira etapa do projeto Negritos, temos plena ciência de sua incompletude. A pesquisa me levou a outros jornais nas duas cidades e em outras partes do Nordeste. Portanto, a pesquisa prossegue e o site tem muito a abrigar. O mesmo vale para os depoimentos, existem outras vozes a registrar. As indicações de leituras e as imagens são só pílulas para estimular ainda mais a pesquisa, que espero ver multiplicada dia após dia.

Venha com a gente. Acompanhe o Negritos nas redes sociais e faça parte deste movimento de registro das memórias negras.

 

Martha Rosa Figueira Queiroz
Coordenadora do Projeto Negritos. Imprensa Negra no Recife e Salvador
Profa. Adjunta do Centro de Artes, Humanidades e Letras/UFRB
Coordenadora ARÒYÉ. Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão Educação para as Relações Étnico-raciais, Educação Patrimonial e Ensino de História